terça-feira, 25 de agosto de 2015

Serena

- Deixa-me dizer-te que ontem acordei serena. 
- O que queres dizer com isso?
- Sinto que atingi o equilíbrio que procurava para este momento da minha vida.
- Não estou a perceber nada...
- Sabes que sou complicada e quando a teia se adensa demoro algum tempo a reorganizar todos os frágeis fios que a compõem.
- Queres concretizar ou vais continuar a divagar?
- É simples. 2015 teve meses com muitos altos e baixos. Muitas decisões. Muitas mudanças interiores. Muito arrumar de ideias, pensamentos e sentimentos. Sabes que as minhas arrumações são eternas. Um armário de cada vez. Não sei porque o faço, mas talvez se deva ao querer descobrir bocadinhos de mim em dias diferentes. E se hoje me apetece arrumar sapatos, amanhã é dia dos papéis e no dia seguinte mudo as taças da cozinha. Sabes que é importante mudar as coisas de sítio porque, por vezes, chegas a um ponto de conforto e fazes tudo mecanicalmente e deixas de pensar no que estás a fazer?
- Por exemplo?
- Tão simples como até há uns dias atrás ter os pacotes de chá num frasco na bancada do lado direito da cozinha e decidi mudá-lo para a bancada do lado esquerdo. Esta manhã, quando queria fazer um chá, o corpo rumou, automaticamente, à bancada do lado direito, o que significa que o cérebro já não pensa. E acho importante contrariá-lo de vez em quando e a olhar para as coisas de uma outra forma.
- Forças-te, assim, a ver as coisas numa outra perspectiva?
- Exactamente! Deixar as coisas como estão, nunca é solução. Há que remexer, mudar de sítio e, eventualmente, deitar ao lixo. Seja com os pacotes de chá, os papéis ou mesmo os sentimentos, a dor e as incertezas, ou inseguranças. Há momentos da tua vida em que gritas que não queres falar sobre alguma coisa que te deixou triste, ou que colocas todos os objectos que te lembram um momento no fundo de uma caixa no armário que nunca abres. Mas vai chegar aquele dia em que terás de arrumar o armário, abrir a caixa e trazer à luz do dia o que te esforçaste por esconder na escuridão da tua memória. E quando conseguires fazê-lo, todas as peças do teu presente que não encaixam, por artes mágicas e também porque tu queres, começam a unir-se e a dar um sentido ao puzzle a que chamas vida.
- E é por isso que ontem acordaste serena?
- Sim e também porque já não tenho medo e acredito que em 2015, apesar dos meses com muitos altos e baixos, consegui, finalmente, calcetar o caminho do meu futuro.
- Fico feliz por ti!
- Obrigada! Ontem acordei serena. Hoje serena continuo. E amanhã serena desejo estar.

Amêndoa

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