segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Que é pois o tempo?

Segundo José Tolentino Mendonça, in A Revista do Expresso, de 31.12.2015, "sabemos todos o que é o tempo, mas ele continua a ser uma coisa difícil de descrever. É como se nos faltassem subitamente palavras e o próprio tempo nos impusesse um outro tempo para nos aproximarmos do que ele é. Há uma espécie de lentidão necessária, um dobrar da língua ao qual Santo Agostinho, nas “Confissões”, é bem sensível. Escreve ele: “Que é pois o tempo? Se ninguém me pergunta eu sei, mas se desejo explicar a quem o pergunta não o sei.”

E, contudo, somos feitos de tempo, lavrados instante a instante pelos seus instrumentos: conhecemos idades, estações, tempos mensuráveis e incontáveis, formas visíveis e invisíveis de tempo. Por vezes, o tempo passa por nós com um passo tão subtil que nem damos por ele; sem dilemas ou censuras, ele como que flutua. Mas outras, o mesmo tempo atormenta-nos, cerca-nos com a sua voracidade, insidia-nos, faz-nos escutar cada vez mais perto os seus martelos, e damos por nós mais sós, vulneráveis à sua obsidiante vertigem. O que é pois o tempo? Não sei se esta pergunta terá algum dia cabal resposta. O importante, creio, é a compreensão de que este tempo que nos atravessa, este tempo preciso, somos nós mesmos. Somos o instante que se prolonga. Somos o duro desejo de durar, e isso não é senão tempo, duração. Mas há uma sabedoria do tempo a redescobrir. O tempo não é apenas tempo. O tempo é uma arte e pede de nós três coisas. A primeira é a necessidade de desfatalizarmos o tempo. (...) A segunda coisa que nos vem pedida é que entendamos as nossas sucessivas crises em relação ao tempo (inseguranças, conflitos, atritos, interrogações), mesmo se dolorosas, como formas de operacionalizar o tempo enquanto lugar não só de fins mas de recomeços. (...) O terceiro desafio é reaprendermos o tempo como dom que nos ensina os múltiplos e inesgotáveis sentidos do dom. (...)".

Amêndoa


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