terça-feira, 20 de março de 2012

Mais umas páginas

"Cem Anos de Solidão" não é daqueles livros para trazer na mala e ler enquanto se espera o autocarro ou se almoça na praça de restauração de um qualquer centro comercial. É preciso atenção e concentração para perceber a história.
Adoptei, assim, um segundo livro para me entreter nos momentos de espera - "A queda dum Anjo" de Camilo Castelo Branco que, apesar de escrito no Século XIX, é tão actual. Atentem nas seguintes palavras:

"O Presidente: - Tem a palavra o nobre deputado Calisto Elói de Silos de Benevides de Barbuda.
- Sr. Presidente! - disse Calisto. - Entendi quase nada, porque o Sr. Deputado Dr. Libório não falou português de gente. (Riso nas galerias.) As laranjas, espremidas de mais, dão sumo azedo, que corta a língua. O Senhor Deputado fez do seu idioma laranja azeda. Se a linguagem portuguesa fosse aquilo que eu acabo de ouvir, devia de estar no vocabulário da língua bunda. Parece-me que os obreiros da torre de Babel, quando Deus os puniu do atrevimento ímpio, falaram daquele feitio!
(Ordem! Ordem!)
O orador: Ordem, Srs. Deputados, peço eu para a língua portuguesa! Peço-a em nome dos ilustres finados Luís de Sousa, Barros, Couto e quantos, no Dia do Juízo, se hão-de filar à perna do Sr. Dr. Libório.
O Presidente: - Peço ao ilustre deputado que se abstenha de usar frases não parlamentares.
O orador: - Tomo a liberdade de perguntar a V. Exa. se as locuções repolhudas do ilustre colega são parlamentares; e, se o são, peço ainda a mercê de se me dizer onde se estudam essas farfalhices.
Vozes: - Ordem! Ordem!"

Amêndoa

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